terça-feira, 27 de julho de 2010

Cirurgia Plástica

A cirurgia plástica é imoral? E o mais importante: Por que você quer saber?
Certa vez, tarde da noite, o comediante Craig Fergunson observou que a sociedade saiu dos trilhos quando surgiram os executivos de publicidade dirigida aos jovens consumidores, em 1950. Eles fizeram isso, explicou, para que as pessoas se comprometessem com certos produtos em uma idade mais jovem e, portanto, gastassem mais em uma determinada marca de suas vidas.

Porém, mais tarde todos embarcaram nessa, celebrando a juventude em vez da sabedoria e da inteligência, que vêm com a idade e com a experiência. Quando ser jovem tornou-se moda e desejável, as pessoas ficaram com medo de não serem assim, ele argumenta. “As pessoas começaram matando seus cabelos, mutilando seus rostos e corpos, a fim de adquirir uma aparência jovem. Mas você não pode ser jovem para sempre! Isso é contra as leis do Universo!”.

A morte é inevitável, simplesmente acontece. Mas as pessoas estão fazendo seu melhor para lutar contra o envelhecimento através de realces estéticos em tudo o que puderem.

Sou uma daquelas pessoas que desaprovam a cirurgia estética. Desde que percebi meus amigos fazendo operações no nariz em seus aniversários de 16 anos, senti que a modificação do corpo, de alguma forma, é enganosa. E quando vejo as celebridades envelhecendo, com lábios que parecem pertencer a um pato, realmente me espanto.

Para muitos de nós, a cirurgia estética provoca uma reação de repugnância. O eticista Leon Kass fala sobre a “sabedoria da repugnância”, a idéia de que a nossa repulsa indica uma compreensão intuitiva de que algo é moralmente errado. Na verdade, as aventuras de Michael Jackson e Joan Rivers pelo bisturi parecem contos modernos de moralidade.

Mas a cirurgia plástica é ruim porque não é natural? Raspar as axilas e pernas não é natural, mas você não ouve muito sobre como os ocidentais estão indo contra a natureza quando as mulheres compram aparelhos de depilação. Alguns poderão argumentar que a maioria dos nossos tratamentos (tais como as mudanças em nossos cabelos ou a depilação de pêlos faciais indesejados) é uma correção estética temporária, enquanto que a cirurgia estética permanente altera o que Deus nos deu. Mas a duração da mudança não é o melhor barômetro ético. Além disso, não parecemos ter problemas com a cirurgia de recolocação do joelho ou a de remoção permanente dos dentes.

A verdadeira diferença estaria – como pensei por muito tempo – entre o tratamento médico versus o realce estético? Uma mulher que faz cirurgia plástica após a retirada de um câncer de mama está correta, mas outra que aumenta seu busto sem necessidade médica é suspeita.

“Se ao menos as coisas fossem tão fáceis”, diz Hans Madueme do Center for Bioethics and Human Dignity (Centro de Bioética e Dignidade Humana). “O mundo está repleto de complexidade ética e moral”, diz ele, observando que o perfume e a maquiagem também são realces estéticos.

Um pastor amigo certa vez me disse: “A resposta Luterana para cada pergunta é: ‘Por que você quer saber? ’”. A questão da moralidade do aborto será tratada de forma diferente dependendo se a pessoa for uma mulher vinda de um processo abortivo e que procura perdão, uma grávida que enfrenta uma gravidez de risco e considera o aborto, ou uma jovem curiosa que simplesmente busca instrução.

A resposta não muda, mas a forma como abordamos a questão sim.

Do mesmo modo, talvez a melhor forma de abordar questões sobre a moralidade da cirurgia plástica seja apontar por que estamos refletindo sobre o assunto. Uma mulher que pensa que o casamento vai melhorar se ela melhorar seu busto, certamente precisa de ajuda – mas, provavelmente, não o tipo de ajuda que fornece um bisturi. Mas o que acontece com o homem que recentemente perdeu centenas de quilos e tem a pele flácida atestando tal perda? Ele está moralmente justificado para fazer uma dobra de pele? E quanto a alguém com uma marca de nascença que, apesar de inofensiva, é tremendamente perturbadora aos outros?

Só porque a questão é moralmente complexa não significa que não existam respostas. Significa, no entanto, que existem limites para o que podemos afirmar com certeza. Mas entender a razão pela qual alguém procura a cirurgia estética nos ajuda a entender se esta é moral ou não.

E ainda há outra parte da questão, voltando ao discurso de Ferguson. Sim, nossa cultura de cirurgias plásticas rodeia a beleza e a cobiça. Mas também abrange nossas fragilidades e corpos imperfeitos, e, mais ainda, nosso descontentamento. Ansiamos por mais propósito e plenitude, acreditando que somente obteremos isto se melhorarmos uma parte de nossos corpos imperfeitos.

Adoramos os nossos corpos em vez de adorar o Senhor. E, embora algumas cirurgias estéticas sejam um belo presente de Deus, outras também são sintomas da nossa enorme podridão cultural.

Mollie Ziegler Hemingway é colunista da Christianity Today em vive em Washington D.C.

Traduzido por Joanna Brandão